Artigo: Dados discrepantes sobre as exportações e importações

Orlando Monteiro da Silva*

Os dados da tabela abaixo são parte da Tabela A6 da publicação World Trade Statistical Review 2019[1], da Organização Mundial do Comércio. Foram tomados apenas como um exemplo de casos muito comuns na análise do comércio internacional, quando encontram-se discrepâncias entre os dados referentes às exportações e importações. Nesse caso específico, o valor das exportações (19.475 trilhões de US$) e importações (19.867 trilhões de US$) mundiais de mercadorias para o ano de 2018 deveriam ser os mesmos, pois o que sai de um país ou países deveria chegar no outro ou outros. E porque eles diferem? São várias as explicações e algumas delas são descritas a seguir.

No exemplo mostrado acima alega-se que os dados são de responsabilidade das instituições estatísticas de cada país e que as diferenças ocorrem por questões de arredondamento. Usualmente as discrepâncias são justificadas por falhas dos exportadores e das agências governamentais nacionais em relatar corretamente os dados estatísticos. Há casos em que as exportações são infladas, quando, em alguns países, são realizadas campanhas de promoção das exportações e casos, em que são reportados valores menores do que os verdadeiros, para evitar a cobrança de impostos. Em outros casos surgem diferenças pelos países excluírem os dados das zonas de livre comércio (zonas francas). Também, há diferenças devido à consideração ou não das reexportações e das mercadorias em transito, além dos atrasos (time lags) nos registros das exportações e importações. Vale lembrar que os custos de transporte e os valores do seguro são incluídos nos valores das importações (CIF) mas não nos valores das exportações (FOB), o que também pode ser fonte de diferença nos dados agregados.

São por essas razões que na maioria dos estudos empíricos sobre o comércio internacional, faz-se a opção pela utilização dos dados sobre as importações. Eles também apresentam problemas, mas é de interesse dos governos controlá-los com mais rigor, devido à cobrança de impostos sobre as importações (tarifas), ou ao controle das quantidades importadas (cotas). Contudo, independente da opção adotada, é importante, sempre que possível, que os dados sejam obtidos da mesma fonte, cuja metodologia de coleta e compilação tendem a ser as mesmas, minimizando possíveis erros.

[1] https://www.wto.org/english/res_e/wts2019_e/wts2019_e.pdf

*Professor Titular da UFV.

Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.