Artigo: Financiamento do comércio internacional: Uma grande barreira?

Orlando Monteiro da Silva*

Em qualquer transação internacional o exportador gostaria de ser pago quando despachasse o produto, enquanto o importador gostaria de pagar somente quando o recebesse. Considerando que o tempo entre o despacho e o recebimento de um produto pode levar meses, pode-se perceber a importância de um intermediador financeiro para essa atividade. Na realidade, pouquíssimas transações internacionais são realizadas com pagamento antecipado em dinheiro. A pouca confiança (ou a falta dela) entre os parceiros comerciais impede esse tipo de transação. São as instituições financeiras dos países que tomam esse risco de crédito, provendo empréstimos, garantias de pagamento e seguros para que os produtos possam cruzar as fronteiras.

O comércio internacional de produtos, de quase U$ 20 trilhões em 2018, indica o tamanho desse mercado, desde que quase toda transação depende de um empréstimo, garantia ou seguro. A modalidade de crédito mais difundida e segura no comércio internacional é a “carta de crédito”. Uma carta de crédito é um contrato de empréstimo em que uma instituição financeira lança um crédito a um importador, para ser descontado pelo exportador, como pagamento dos produtos envolvidos na transação. Para obter esse crédito o importador tem que cumprir uma série de exigências, tais como seguir as regras bancárias e fornecer as garantias de crédito. Também, para ter direito ao recebimento, o exportador tem que atender todas as exigências do contrato, como discriminar o produto e sua embalagem, os prazos de validade, os certificados, os portos de origem e destino, o conhecimento de embarque, etc, além daquelas do banco local. O procedimento envolve sempre dois bancos: um no país importador que emitirá a carta de crédito e outro no pais exportador, escolhido pelo vendedor ou pelo banco emissor, para confirmar a carta de crédito.

Um problema para as transações internacionais é que o sistema bancário é muito assimétrico entre os países. Nos países desenvolvidos há mais crédito disponível, uma boa distribuição espacial de agências bancárias, que promovem a competição pelos serviços e taxas reduzidas. Isso não ocorre nos países menos desenvolvidos, onde as opções de crédito são escassas e caras. O número de bancos internacionais que têm agências em outros países, ou relacionamentos com bancos locais é pequeno e foi ainda mais reduzido depois da crise do subprime nos Estados Unidos. Isso diminui as alternativas de financiamento e se torna uma grande barreira ao comércio internacional. Não é por menos que o relatório de possibilidades de comércio do Fórum Econômico Mundial[1] mostra que a falta de financiamento para as transações internacionais representa um dos três maiores obstáculos para as exportações de metade dos países do mundo.

[1] http://reports.weforum.org/global-enabling-trade-report-2016/enabling-trade-index-results-overall-trends/

*Professor Titular da UFV.

Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.