AMIS – Um bom sistema internacional de informações agrícolas

Orlando Monteiro da Silva*

Nos anos de 2007/08 o mundo passou por uma grave crise de alimentos. De acordo com a FAO, entre 2005 e 2008, a elevação recorde nos preços de produtos básicos, como trigo (127%), milho (297%) e arroz (170%) empurrou 40 milhôes de pessoas para a fome, para uma estimativa dos 963 milhões já existentes. Muitos foram os fatores que contribuiram para a grande elevação de preços agrícolas naquele período. Pode-se começar citando as prolongadas secas que ocorreram em países grandes produtores, como a Austrália e em países europeus, que reduziram a oferta de alimentos. O rápido crescimento econômico de países populosos como a China, que aumentou a demanda e, consequentemente, os preços. Ao mesmo tempo, ocorria nos Estados Unidos e na Europa, em função da elevação dos preços do petróleo, um aumento da demanda por milho e soja para a produção de biocombustíveis, o que reduziu a oferta para o consumo humano e animal. Também, o baixo nível de estoques desses produtos gerou uma especulação nos mercados futuros, aumentando a volatilidade e os níveis de preços.   

O aumento nos preços dos alimentos básicos, contribuiu para a elevação das taxas de inflação, redução da renda e aumento da insegurança alimentar, principalmente dos países e consumidores mais pobres, gerando turbulência política e social em várias partes do mundo. Foi sob esse cenário que o grupo dos países mais ricos do mundo (G20), reunido em Seul (Coréia),  em 2010, decidiu criar um sistema de informações agrícolas para diminuirr e gerenciar melhor os riscos associados à volatilidade dos preços dos alimentos e proteger os países mais vulneráveis. Um consorcio de 10 organizações internacionais (FAO, IFPRI, IFAD, OCDE, IGC, UNCTAD, The World Bank, WFP, GEOGLAM e WTO) foi criado, sob a coordenação da FAO e do G20 e, em setembro de 2011, lançou o Sistema de Infornmações de Mercado Agricola (AMIS). Essa instituição é formada por uma Secretaria, que funciona na sede da FAO, em Roma, e que tem um comitê gestor com representantes das dez organizações. Tem um grupo de informação de mercado, constituido por representantes de cada país membro (G20 mais 8 países grandes produtores) e que se reune duas vezes por ano, com função de fornecer informações sobre a oferta,  demanda, preços e os desenvolvimentos recentes em seus países que podem impactar os mercados. Tem, também, um forum de resposta rápida, que se reúne uma vez por ano para promover discussões sob as condições críticas de mercado e como conduzi-las. 

Por enquanto, o AMIS acompanha os mercados de milho, arroz, trigo e soja e os países que fazem parte do Grupo, respondem por uma produção acima de 95% daqueles produtos. Com uma regularidade mensal, são apresentados e estão disponíveis em um banco de dados, informações sobre os preços, produção e comércio dos quatro produtos, além dos preços do petróleo, ethanol, fertilizantes, frete marítimo e dólar. Em um outro banco de dados, aparecem as restrições ao comércio (tarifas e restrições às exportações, cotas tarifárias e suporte aos produtores e consumidores), com informações da OCDE e WTO. Disponibiliza um monitor eletrônico, divulga eventos e diversas publicações sobre os mercados dos quatro produtos. O acesso é livre e vale muito a pena conhecer e navegar naquela plataforma.   

* Professor colaborador/voluntário da UFV. Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.