Primeiro aluno a defender a dissertação retorna ao mestrado como coorientador

No ano de 2011, uma turma de servidores do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) ingressou no recém-criado Mestrado Profissional em Defesa Sanitária e Vegetal da UFV, pensado naquele momento para atender demandas muito presentes na rotina de trabalho do órgão. Neste grupo estava Ricardo Hilman, hoje Coordenador Geral de Proteção de Plantas do MAPA. Menos de dois anos depois, Ricardo defendeu, junto à banca, a primeira dissertação do mestrado, entrando para a história como o primeiro mestre formado pelo curso. 

Agora, mais de dez anos depois, ele retorna ao Mestrado, na condição de coorientador. Essa é a primeira vez que o hoje doutor em Fitossanidade assume uma função deste tipo, para a qual ele se diz entusiasmado. “Eu sempre achei que as universidades precisam estar mais próximas dos profissionais, e o Mestrado Profissional proporciona isso, que os estudos sejam muito mais direcionados.Ver pessoas que queiram continuar estudando, melhorando sua capacidade tecnológica de pesquisa, de qualidade, e voltadas para a função que elas exercem é excelente é o que me incentivou a participar. Além do que é uma honra participar do mestrado onde eu ingressei em 2011.”

Na época, o pesquisador mapeou as barreiras interestaduais fitossanitárias do Brasil, que servem para que sejam fiscalizados produtos agropecuários com alguma restrição de trânsito em função de problemas fitossanitários. Naquele momento, essas barreiras não eram devidamente conhecidas e listadas pelo MAPA. “Então, o meu trabalho foi localizá-las e avaliá-las não só do ponto de vista de estrutura, mas também avaliando se elas funcionam ou não, se estavam bem localizadas, de eram propícias. O trabalho incluiu não só as barreiras fixas, mas também as volantes que os estados tinham.”

O mapeamento traçado pela dissertação “As barreiras fitossanitárias interestaduais no Brasil: localização e avaliação técnica” foi imediatamente incorporado ao trabalho das equipes do MAPA e também de outros órgãos, como a Empapa. “Então foi um processo muito importante, não só pra mim, mas pro próprio Ministério da Agricultura. Conseguimos contribuir diretamente para o trabalho que estava sendo feito naquele momento em todo o país.”

Novo recorte
Ricardo volta a o Mestrado a convite do professor Orlando Silva, seu orientador em 2011. Juntos, eles orientam o mestrando Leonardo Augusto Ferro, que desenvolve estudos sobre as barreiras fitossanitárias do Estado de Rondônia, utilizando a mesma metodologia proposta anos atrás por Ricardo. Além de avaliar a evolução ocorrida naquelas barreiras  nos últimos 10 anos, o trabalho propõe a informatização total dos procedimentos e a interligação entre as barreiras fixas e móveis do Estado, agilizando e aumentado a eficácia das abordagens.

Ricardo, que ingressou no MAPA como auditor fiscal em 2002, destaca o quanto a oportunidade do mestrado foi importante na construção de sua carreira. “Eu me lembro que foi um desafio trabalhar e fazer o mestrado ao mesmo tempo. Em contrapartida, era um sonho desde quando eu me formei, que foi viabilizado exatamente pelo modelo de trabalho do mestrado. E, mais do que uma capacitação profissional qualquer, o mestrado foi importante porque a minha dissertação foi voltada pro Ministério da Agricultura, foi totalmente aplicada à minha necessidade no trabalho.”

 

Orientadora Madelaine Venzon é destaque na Lista Forbes das 100 Doutoras do Agro

A professora orientadora do Mestrado Profissional Madelaine Venzon aparece na lista Forbes das 100 Mulheres Doutoras do Agro publicada neste domingo, dia 15 de outubro, Dia Internacional da Mulher Rural.

Pesquisadora da Epamig e referência no Controle Biológico Conservativo, Madelaine é destaque ao lado de outras 99 doutoras brasileiras que vêm contribuindo fortemente para o desenvolvimento do agronegócio no Brasil e no mundo. “Fiquei muito feliz pelo reconhecimento, afinal são 31 anos de Epamig dedicados às pesquisas em Controle Biológico de Pragas. Estamos em um momento que as tecnologias de base biológica estão sendo demandadas na agricultura. Como já trabalhamos com isso, podemos oferecer soluções com base científica para o manejo de pragas. Podemos dizer que participamos da criação da “onda” do controle biológico e não estamos somente “surfando” nela. Isso é extremamente recompensador, saber que o seu trabalho está sendo realmente aplicado.”

Reconhecida por liderar equipes de destaque com grande presença feminina, Madelaine aposta em uma abertura do mercado para o trabalho feito por mulheres. “Acredito que as portas estão se abrindo sim. A presença forte da mulher no campo, nas universidades e nas instituições de pesquisa tem aumentado. Particularmente, meu grupo sempre teve mulheres dedicadíssimas e que são destaque tanto no meio acadêmico como empresarial. Vejo nas mulheres uma força em descobrir o novo, em romper barreiras. Falo sempre que meu trabalho é reflexo de uma equipe, e nesta as mulheres estão presentes sempre.”

Opinião Orlando Silva – Gripe Aviária: Um grande problema

Orlando Monteiro da Silva*

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a primeira descrição da gripe aviária ocorreu em 1878 no norte da Itália, como uma doença contagiosa de aves, conhecida como “peste aviária”. Na virada do século 20, foi determinado que a “peste aviária” era causada por um vírus, mas somente em 1955 foi demonstrado ser um vírus influenza do tipo A. É uma doença infecciosa com alta taxa de mortalidade, que ja foi isolada em mais de 100 espécies de aves selvagens. O virus ocorre naturalmente entre aves aquaticas (patos, gansos, gaivotas, etc) e migratórias, mas pode infectar outras espécies de aves domésticas e animais. É classificado como tendo baixa (LPAI) e alta (HPAI) patogenicidade. A doença com baixa patogenicidade não apresenta sinais nas aves ou os mesmos são brandos, enquanto aquela com alta patogenicidade apresenta taxa de mortalidade acima de 75%. A linhagem H5N1 tem sido a responsável pelos casos de infecção em humanos. Apesar dos casos serem esporádicos, requer atenção, já que uma mutação genética do virus poderia levar à transmissão entre os humanos.

A gripe aviária tem chamado a atenção da comunidade internacional ao longo dos anos, pelos repetidos surtos em vários países, sempre com consequências devastadoras para a indústria aviária, a subsistência dos criadores, a saúde animal e o comércio internacional. Nos locais onde os surtos ocorrem costuma-se abater as aves doentes e as saudáveis, para evitar a propagação da doença, o que implica em grandes perdas econômicas imediatas e impactos em prazos mais longos em toda a cadeia produtiva. O acompanhamento dos surtos da gripe aviária no mundo é feito pela Organização Mundial para a Saúde Animal (WOAH – antiga OIE), por meio das notificações ao Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) da OMC. A WOAH reporta que depois de ocorrerem surtos em aves domésticas e selvagens da África, Ásia, Europa e América do Norte, a doença foi detectada nas Américas Central e do Sul. Nos últimos 4 meses, a gripe aviária foi notificada pela primeira vez na Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Panamá, Peru e Venezuela e, mais recentemente na Argentina e Uruguai. Parece inevitável que a doença chegue ao Brasil.

Dado que o Brasil é o maior exportador de carnes de aves do mundo, a ocorrência da doença em criação comercial, teria como efeito imediato, o embargo às importações por vários países. Dadas as dimensões continentais do país e em antecipação ao problema, uma regionalização da produção deveria estar registrada junto à WOAH e OMC, possibilitando a continuidade das exportações de algumas regiões, para alguns países. Nas regiões afetadas, as medidas sanitárias mais rígidas elevariam os custos de produção, enquanto os preços da carne seriam reduzidos pelo declínio do consumo externo e interno. O preço dos ovos aumentaria pela redução da oferta.

Para evitar ou postergar a ocorrência da gripe aviária no país, protocolos rigorosos de segurança estão sendo implantados nas granjas e abatedouros. O MAPA tem planos de vigilância passiva (sob notificação) e ativa de gripe aviária em estabelecimentos avícolas, abatedouros e para casos de mortalidade de aves silvestres, além da vigilância de criações de subsistência em áreas de risco. Está em vigor um rigoroso controle no trânsito de aves, ovos e material genético interno e nas fronteiras.

* Professor colaborador/voluntário da UFV. Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.

Mulheres potencializam produção científica do Mestrado Profissional

Oito de março é dia de celebrar as mulheres e seus infinitos lugares na nossa sociedade!

Na foto, Dra. Madelaine Venzon, orientadora do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal e pesquisadora da Epamig, umas das maiores referências do Brasil no controle sanitário de pragas do café.

Na figura dela, o Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal reconhece o brilhantismo e protagonismo das mulheres na nossa rotina de trabalho em busca de cada vez mais conhecimento.

Lugar de mulher é onde ela quiser!

Orientadores do Programa Madelaine Venzon e Angelo Pallini editam publicação internacional sobre manejo sustentável de pragas do café

Os professores Angelo Pallini e Madelaine Venzon, do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, são os editores convidados de uma publicação especial recentemente anunciada pela revista internacional Agriculture, do MDPI (Multidisciplinary Digital Publishing Institute), que tem fator de impacto 3.408. O tema da edição especial é “Sustainable Pest Management for Coffee Production“. Os professores vão receber artigos de autores de todo o mundo. O prazo para submissão dos trabalhos já está aberto e vai até 12 de abril de 2023. 

“Problemas ambientais, resistência de pragas a pesticidas, questões relacionadas à toxicidade e ao cumprimento das “compliances” pelas corporações no comércio internacional têm levado os cafeicultores a buscarem alternativas para o controle de pragas, tradicionalmente dependente de pesticidas químicos. Portanto, serão aceitos trabalhos que abordem estratégias como o controle biológico conservativo, uso de biopesticidas, de variedade resistentes, do controle cultural, entre outras para o manejo sustentável de pragas do cafeeiro”, explica Dra. Venzon, que é pesquisadora da Epamig. 

“Todos os pesquisadores que trabalham no tema são encorajados a submeter seus trabalhos. A vantagem de uma edição especial é dar rapidez à publicação e concentrar as informações, dando visibilidade às pesquisas e  gerando difusão e discussão do assunto em questão na comunidade internacional que trabalha na área”, avalia Angelo.

Os textos devem ser submetidos em inglês. Somente são aceitos manuscritos inéditos. O guia para os autores e outras informações importantes para submissão dos manuscritos estão disponíveis neste link. As palavras-chave definidas pelos editores são controle biológico conservativo; biopesticidas; broca-do-café; bicho-mineiro-do-café do cafeeiro; ácaros; interações na teia alimentar do cafeeiro; monitoramento de pragas e cultivares resistentes a pragas de café.

A Agriculture é uma revista mensal de acesso aberto. O MDPI atua desde 2010 e é mantido hoje pela MDPI Sustainability Foundation.

Foto: Madelaine Venzon 

Mestrado Profissional retoma atividades presenciais 

Foram retomadas, na última semana, as atividades presenciais do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal. 

Os alunos estiveram no campus da UFV em Viçosa para as aulas de três disciplinas diferentes: Manejo Integrado de Plantas Daninhas em Defesa Vegetal; Programas de Manejo Integrado de Pragas e Manejo Integrado de Doenças em Defesa Vegetal. 

No encontro, a turma teve a oportunidade de conhecer pessoalmente o campus, os colegas de turma e, claro, os orientadores do curso.

No segundo semestre, entre os dias 17 e 22 de outubro, as turmas voltam a se reunir em Viçosa.

 

Revista destaca pesquisas de Madelaine Venzon no controle de pragas do café

O trabalho da pesquisadora Medelaine Venzon, orientadora do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, é destaque na edição deste mês da revista Globo Rural. Na matéria “Barreiras naturais”, a publicação apresenta avanços da ciência brasileira para o controle de pragas que atacam os cafezais, com foco na diversificação de culturas que têm o potencial de aumentar a população dos inimigos naturais das pragas. 

Madelaine, que é coordenadora do Programa de Agroecologia da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), vem se dedicando ao longo dos últimos anos ao estudo de culturas que possam ser utilizadas como agentes de Controle Biológico Conservativo (CBC) em cafeeiros, notadamente no combate à broca-do-café e ao bicho-mineiro. A publicação apresenta a crescente importância destas pesquisas, especialmente diante dos desafios trazidos pelo aumento da temperatura global, com destaque para os sistemas agroflorestais, que associam a plantação de café com outras espécies, como o ingá, o trigo-mourisco e a crotalária. 

Essas alternativas já chamam a atenção do mercado, que vê no trabalho da pesquisadora um importante aliado na transição para uma cafeicultura regenerativa. Em breve, a Nespresso deve iniciar uma parceria técnica com a Epamig, no intuito de utilizar esse conhecimento como apoio para seus fornecedores. A ideia é implementar projetos-piloto em fazendas do Cerrado Mineiro e construir indicadores sobre a viabilidade financeira e os benefícios do CBC nas práticas regenerativas. 

Madelaine também é orientadora do Programa de Pós-Graduação em Entomologia da UFV e do curso de Pós-Graduação latu sensu em Proteção de Plantas, da mesma instituição. No início do ano, ela teve seu trabalho reconhecido por meio do Prêmio Pesquisadores-Destaque do ano da Epamig.

Fotos: Rodrigo Carvalho Gonçalves

Mais informação e mais conhecimento no combate às sementes pirata

As sementes pirata fazem parte da rotina do fiscal de Defesa Agropecuária do Estado do Mato Grosso Rodrigo Vicenzi desde 2012, e não por acaso foi a elas que ele dedicou a maior parte de sua atenção em sua passagem pelo Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal, no período de 2018 a 2020. “O curso, pra mim que estou na área de Defesa Agropecuária, encaixou como uma luva. Tanto as disciplinas em sala de aula quanto o projeto de pesquisa desenvolvido, em uma área bastante crítica e bem atual, que seria nossa principal atividade de fiscalização no estado do Mato Grosso, foram de muito proveito.”

Em sua dissertação, sob orientação do professor Orlando Monteiro da Silva, Rodrigo fez uma análise do uso e da legislação em torno das sementes piratas de soja no estado do Mato Grosso – o maior produtor do grão do Brasil, com uma plantação de mais de 9 milhões de hectares. “A questão é que pelo menos um quarto das sementes de soja utilizadas são sementes não certificadas. Parte delas são reserva de uso próprio, e as demais, 11,2% segundo estimativas, são pirata”, diz Rodrigo, dando uma dimensão da relevância do tópico para o trabalho que ele exerce. “Nós aqui no Centro estamos vendo acontecer comércio de semente irregular em todo lugar, em todas as cidades, com vários produtores adquirindo, enquanto temos uma legislação bastante amarrada e engessada”, diz o agrônomo.

Rodrigo atua como fiscal agropecuário no estado do Mato Grosso

Ao final da dissertação, Rodrigo apresentou uma série de contribuições para promover o avanço desta legislação, como a adoção de medida cautelar e alteração nos valores das multas hoje aplicadas. “Na safra de 2017/2018, esses 11,2% de semente pirata representaram cerca de R$ 612 milhões que deixaram de ser movimentados pelos produtores de sementes e pela revenda, somente no Estado do Mato Grosso.”

Nova visão
“O curso me ajudou a estudar melhor, a trabalhar melhor, e entender melhor toda essa parte de legislação, não só a nossa legislação estadual, mas toda legislação federal, instrução normativa, e muitas outras que abrangem o tema”, conta Rodrigo, que ingressou no curso de Agronomia com apenas 16 anos, na Universidade Estadual de Santa Catarina.  “Mas o mestrado é importante também porque nos coloca em contato com muita gente diferente de todo o Brasil, de várias áreas. Em várias ocasiões, isso ajuda até na tomada de decisões na nossa própria área de trabalho, à medida que vamos trocando ideias com profissionais de outras regiões do país que estão na mesma atividade. Ganhei muito em atualização, em conhecimento, em informação”.

Madelaine Venzon recebe prêmio da Epamig 

A orientadora do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal Madelaine Venzon vai receber, na próxima semana, o prêmio Pesquisadores-Destaque do Ano da Epamig. A premiação foi criada pela instituição para agraciar os pesquisadores com maior produtividade, com base nos dados da Plataforma Pesquisa Epamig, que reúne vários indicadores de atuação profissional. 

Dra. Madelaine se destaca por projetos desenvolvidos na linha de controle biológico conservativo em cafeeiros, financiados pelo CNPq, pela Fapemig e pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa em Café, com grande impacto no desenvolvimento tecnológico e na difusão de tecnologias na área de defesa sanitária vegetal. “Este é um reconhecimento importante, é ter a satisfação de saber que o seu trabalho está sendo reconhecido pela sociedade. Estou realmente muito feliz.”

Confira a produção científica da Dra. Madelaine Venzon acessando o Currículo Lattes dela aqui.

Dra. Madelaine é pesquisadora da Epamig desde 1992, e em 2017 recebeu, também da instituição, o Destaque Mérito Científico. “Acho importante diversificarmos nossas ações, lembrando sempre do nosso papel e dos nossos públicos. Assim, eu procuro, além de escrever os artigos, dedicar parte do tempo para as produções técnicas, para os eventos de popularização da ciência, para a formação de recursos humanos, para atividades de administração e para a convivência com os agricultores. Nesse caminho eu ressalto a importância dos trabalhos em rede, de aliar as competências, de trabalhar em equipe. E finalizo agradecendo à minha família, aos meus parceiros de trabalho da Epamig e das outras instituições e, em especial, aos meus ex e atuais orientandos.”

Além dos trabalhos de pesquisa e da orientação aos alunos do Mestrado Profissional, Madelaine também é orientadora do Programa de Pos-Graduação em Entomologia e do curso de Pós-Graduação latu sensu em Proteção de Plantas, ambos na UFV. Em 2020, ela atuou ainda como Coordenadora da Câmara de Recursos Naturais, Ciências e Tecnologias Ambientais.

A premiação acontece na próxima terça, 04 de maio, às 14h, no Canal da Epamig no You Tube

Foto: Rodrigo Carvalho Gonçalves 

Força de trabalho feminina impacta mercado de Defesa Sanitária

A força de trabalho feminina talvez não seja exatamente o que marca o imaginário popular quando pensamos no mercado de defesa sanitária, mas um olhar mais apurado pode nos ajudar a reconstruir, aos poucos, esse ponto de vista. Se as mulheres ainda não são maioria nos trabalhos de campo e nem ocupam as cadeiras de professores/orientadores nos cursos de graduação e pós-graduação em igual proporção, elas têm participação pra lá de expressiva na geração de conhecimento, entregando frequentemente estudos e projetos fundamentais para o desenvolvimento do setor em todo o país. No Mestrado Profissional de Defesa Sanitária Vegetal, elas assinam mais de 30% das dissertações defendidas até hoje – mas mais do que números, estamos falando de qualidade. 

“Eu tive a experiência de orientar homens e mulheres, e posso dizer que a dedicação – e o resultado – das minhas orientandas salta aos olhos”, atesta Elisangela Gomes Fidelis, orientadora do MP e pesquisadora da Embrapa/Cerrados. Elisangela, que é mestre e doutora em Entomologia pela UFV, conta que viveu seu maior desafio profissional por volta de 2010, quando passou no concurso da Embrapa e assumiu uma vaga de entomologista no Norte do Brasil, na região de Boa Vista.  “Foi desafiador porque eu estava longe de família e amigos, numa região muito quente, muito isolada geograficamente, e havia muita resistência ao trabalho de uma mulher, especialmente em termos campo. Mas tenho muito orgulho deste trabalho, foi onde cresci profissionalmente, onde fiz minha carreira por quase dez anos.” Radicada hoje em Brasília, ela acaba de retornar à sua rotina de trabalho, depois de sua primeira licença-maternidade. “É lógico que a maternidade interfere, mas não é impedimento para ser uma pesquisadora. Precisamos, como mulheres, nos colocar, nos posicionar, para mostrar que somos tão capazes quanto os homens.”

Rosinei fez trabalho de campo no Mato Grosso

Impacto no campo
A agrônoma Rosinei Santos acaba de defender, com orientação de Elisangela, a dissertação “Diagnóstico e fatores determinantes de pragas em pastagens no município de Santa Terezinha, Mato Grosso”. O trabalho surgiu de uma demanda dos produtores rurais da região, com quem a pesquisadora já trabalhava, e o resultado terá impacto direto na pecuária bovina, principal atividade econômica local. “Não tínhamos um trabalho técnico científico com informações que determinassem a presença de inseto-praga relacionados a pastagem. Esse trabalho poderá embasar nossas atividades do dia a dia, com métodos de controle e recomendações que possam propiciar a convivência com o inseto-praga e gerar estratégias”, diz Rosinei. Certa de que o curso do mestrado lhe rendeu maior espírito crítico, ela conta que precisou enfrentar a baixa representatividade e o preconceito contra as mulheres desde que iniciou sua formação. “Sem dúvida, o ambiente que convivo é composto por muitos colegas do sexo masculino, que em sua maioria tinha ou tem a convicção que lugar de mulher é em casa. Mas a forma com que lido com essa situação até hoje me proporcionou ser respeitada, ser ouvida e/ou, pelo menos, ficar no espaço profissional que decidi ocupar.” 

“Vejo um aumento contínuo das mulheres nas turmas do mestrado profissional e, pela experiência que tenho tido nas aulas, as mulheres são mais participativas e abordam assuntos variados com conhecimento e experiências adquiridos no universo profissional do qual elas fazem parte. Com certeza os espaços estão se abrindo para mulheres nesta área e elas vêm ganhando papel de destaque em muitas pesquisas que realizam”, endossa Wania dos Santos Neves, orientadora do Mestrado Profissional e pesquisadora da Epamig. Wania, também mestre e doutora pela UFV, identifica um aumento da presença de mulheres tanto na defesa sanitária vegetal quanto em outras áreas das ciências agrárias. “Podemos ter acesso a publicações de estudos realizados em que é relatado o aumento da produção científica feminina no Brasil, nos últimos 20 anos. Segundo tais, estamos perto de atingir 50% da produção científica total do país e esse fato é muito importante para que as mulheres sejam vistas e respeitadas no universo da pesquisa científica.”

Mercado de trabalho
O desafio, neste contexto, parece ser fazer com que as profissionais, cada vez mais capacitadas, consigam lugar à sua altura no mercado de trabalho. “A gente ainda vê muita dificuldade na inserção destas mulheres no mercado, principalmente em cargos de chefia, no topo de carreiras mais especializadas. Há casos de mulheres que se submetem a cargos muito aquém do que poderiam estar fazendo”, alerta Elisangela. Wania completa chamando a atenção para um outro tipo de desigualdade. “Em uma entrevista de emprego, muitas vezes é perguntado à mulher se ela tem filhos pequenos, se tendo filhos pequenos eles não atrapalhariam a realização de atividades, como viagens, por exemplo. A questão é que essas perguntas não são feitas ao homem, porque os afazeres domésticos e os cuidados com os filhos são automaticamente tidos como parte das obrigações das mulheres na vida familiar.”

Além de orientar estudantes do mestrado, Wania atua hoje na Epamig Sudeste, desenvolvendo, ao lado da também orientadora do MP, Madelaine Venzon, pesquisas sobre controle alternativo de pragas e doenças, além de trabalhos de extensão que levam conhecimento à população de áreas rurais em dezenas de cidades da Zona da Mata mineira. Depois de anos de carreira, ela diz que o preconceito não faz parte de seu dia a dia, mas nem sempre foi assim. “Vivi um grande desafio ao ser chefe geral de uma Unidade da Epamig que, antes, não havia tido mulheres no cargo. Em muitas reuniões externas, eu era a única mulher presente e, inicialmente, algumas vezes não era ouvida. O mesmo acontecia quando ocorriam problemas nos Campos Experimentais, eu era a única mulher da área técnica presente no comitê gerencial. Inúmeras vezes eu era questionada sobre a posição e/ou decisão que eu tomava, e muitas vezes criticada duramente por outros colegas.” 

Edna passou pelo mestrado em 2018 e é hoje professora do Instituto Federal de Educação do Pará

A professora do Instituto Federal de Educação do Estado do Pará Edna da Silva Brito passou pelo mestrado profissional entre 2017 e 2018, realizando uma pesquisa em torno de pimenta malagueta e plantas aromáticas como manejo de pragas. Com uma carreira consolidada como fiscal agropecuária e, em seguida, como professora, foi na UFV que ela encontrou não só oportunidade de desenvolvimento profissional como também de empoderamento. “Pude perceber a importância para as mulheres de se sentirem mais confiantes e reconhecidas por sua participação, principalmente na ciência, onde ainda somos minoria”, diz ela, citando a desproporção entre doutores e doutoras na instituição em que atua. “Com a conclusão do mestrado, progredi na carreira, saindo do nível um para o nível três e, com o aumento salarial, passei a receber igual a um doutor devido ao reconhecimento de saberes e competências (RSC), uma lei que beneficia professores do Ensino Básico Técnico e Tecnológico. Com essa experiência, percebo que cada vez mais sigo um caminho com novas visões e metas para o meu futuro”, diz ela, que tem hoje dois doutorados em curso – na Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e na Univates/RS

Inspiração
No curso de Mestrado Profissional, Edna, que além de pesquisadora e professora é mãe de quatro filhos, encontrou ainda outro elemento que ela julga fundamental para a construção de sua carreira: inspiração. “Na pesquisa de mestrado fui orientada pela Madelaine Venzon, uma profissional incrível e com muitos talentos. A vi como um espelho para minha carreira profissional”, conta, lembrando da importância do apoio de professoras e colegas estudantes para a criação de um ambiente encorajador. Madelaine, que acumula trabalhos de grande repercussão na área de controle de pragas, destaca o desafio de conciliar as múltiplas tarefas que as mulheres frequentemente assumem e a importância de reconhecer o tempo de cada coisa. “Fico muito feliz em ser citada como exemplo e inspiração. Tenho uma ótima relação com os colegas e com os estudantes, estamos aqui para contribuir, para aprender uns com os outros. É muito bom convergir os papéis de pesquisadora com os de orientadora e de professora, são complementares, é rico para mim e para os estudantes”, diz ela, que é pesquisadora da Epamig.

Também para Rosinei, ser orientada por uma mulher durante o mestrado foi um privilégio. “Tive a oportunidade de conviver com a professora Elisangela, uma mulher que, em sua área profissional, é uma referência de conhecimento e sucesso. Desenvolver um trabalho dessa envergadura com uma pessoa que compreende todas essas dificuldades faz com que o trabalho flua”, conta a agrônoma, destacando ainda a parceria fundamental da própria família. “Isso (o sucesso profissional) não foi uma conquista só minha, meu esposo e meus três filhos fazem parte. Entender que em determinados momentos é preciso dar prioridade a determinada ação é o que faz diferença – não conseguimos ser excelentes em tudo a todo momento e ao mesmo tempo, e não devemos ser cobradas e nem nos cobrar por isso.”