A força das mulheres na Defesa Sanitária Vegetal

Num país como o Brasil, onde se faz necessária uma lei que prevê multa para empresas por discriminação salarial de mulheres, é indicativo de que a igualdade entre os gêneros no mercado de trabalho é um objetivo ainda a ser conquistado. O projeto de Lei 88/2015 foi aprovado no dia 20 de março pelo Senado e agora segue para análise da Câmara dos Deputados. A proposta visa assegurar salário igual para homens e mulheres na mesma função e na mesma atividade. Mas as desigualdades não param por aí. Dia após dia elas precisam reafirmar o espaço conquistado e reivindicar respeito e reconhecimento. Conversamos com mulheres protagonistas no Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal da UFV. Elas compartilham um pouco da sua experiência em espaços ocupados majoritariamente pelo sexo masculino.

A professora Graziela Dias Ferreira Sant’Ana conta que o seu primeiro trabalho foi numa indústria, onde seus colaboradores na maioria eram homens. “A minha segunda experiência foi em educação profissional, onde mais uma vez os homens eram maioria. Percebi no meu primeiro dia de trabalho que os desafios eram enormes, pois para a mulher buscar e ter oportunidade de crescimento profissional, ela deve provar diversas vezes que é competente, mostrar que possui postura e principalmente jogo de cintura perante o quadro de colaboradores. E talvez depois, ter reconhecimento de fato por ocupar determinado cargo e ainda obter sua remuneração”.

Graziela concluiu recentemente o Mestrado Profissional e vê com otimismo o que o futuro reserva: “Com o passar do tempo, percebi que as mulheres começaram a ser reconhecidas e hoje, em determinadas funções, a preferência são para mulheres, pois são mais cuidadosas, mais detalhistas, isso faz diferença numa linha de produção. Os desafios são muitos, para ambos os sexos, pois estamos passando por muitas mudanças e se manter atualizado é primordial para que você se mantenha competitivo no mercado de trabalho. Quanto aos preconceitos, sinto ser menos nos dias de hoje e a minha perspectiva é que a cada dia todas as mulheres tenham as mesmas oportunidades no mercado de trabalho”.

Destemida frente aos desafios, a pesquisadora da Embrapa Elisangela Gomes Fidelis também acredita que o que está por vir é promissor. Parafraseando a pesquisadora Marie Skłodowska Curie, primeira mulher a ganhar o prêmio Nobel de Física, devido aos seus estudos sobre radioatividade, Elisangela destaca: “Não há nada a temer na vida, só há uma coisa para compreender: agora é a hora de entender mais para que possamos temer menos.”. E incentiva: “Para mim é uma grande honra como mulher poder orientar os alunos e contribuir com o Mestrado Profissional. Como mulher, estou ocupando um espaço na pesquisa e no ensino acadêmico que antes era majoritariamente masculino. Infelizmente, mesmo sendo maioria como estudantes nas universidades, poucas mulheres chegam a cargos importantes após sua formação. Espero como orientadora, incentivar as alunas para que elas possam crescer profissionalmente e assumir responsabilidades em suas carreiras, assumindo posição de destaque, como líderes de suas equipes, coordenadoras de grandes projetos, etc.”.

Este é o caso da fiscal estadual de defesa agropecuária e florestal Ana Paula Vicenzi. Atuando no Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso – INDEA/MT, Ana Paula avalia que “a participação das mulheres no mercado de trabalho, principalmente no setor da agricultura, vem crescendo a cada ano e rompendo barreiras. Encaramos diariamente os desafios, sem esmorecer, mostramos nossas habilidades na resolução de conflitos e nos dedicamos com afinco, não para provar que somos melhores, mas para provar que somos iguais e merecemos o devido respeito. Hoje lotamos as turmas de agronomia, universidades, lavouras, escritórios e laboratórios. Estamos mostrando nosso valor acadêmico, intelectual, nosso trabalho e estamos conquistando o nosso espaço. Aqui na UFV já conquistamos, entramos por reconhecimento e nos mantemos por mérito. Sou mulher, dona de casa, Engenheira Agrônoma, Fiscal Estadual de Defesa Agropecuária, Especialista em Proteção de Plantas e aluna do Mestrado Profissional em Defesa Sanitária Vegetal. E poderia ser mil outras coisas sem receber o devido reconhecimento, que ainda assim não me abalaria. Sigo na luta, como outras milhões de estudantes e trabalhadoras deste país, que fazem o seu melhor, na certeza de que serão reconhecidas não somente no dia 08 de março, mas em todos os dias de sua vida”.