Opinião Orlando Silva – Gripe Aviária: Um grande problema

Orlando Monteiro da Silva*

Segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), a primeira descrição da gripe aviária ocorreu em 1878 no norte da Itália, como uma doença contagiosa de aves, conhecida como “peste aviária”. Na virada do século 20, foi determinado que a “peste aviária” era causada por um vírus, mas somente em 1955 foi demonstrado ser um vírus influenza do tipo A. É uma doença infecciosa com alta taxa de mortalidade, que ja foi isolada em mais de 100 espécies de aves selvagens. O virus ocorre naturalmente entre aves aquaticas (patos, gansos, gaivotas, etc) e migratórias, mas pode infectar outras espécies de aves domésticas e animais. É classificado como tendo baixa (LPAI) e alta (HPAI) patogenicidade. A doença com baixa patogenicidade não apresenta sinais nas aves ou os mesmos são brandos, enquanto aquela com alta patogenicidade apresenta taxa de mortalidade acima de 75%. A linhagem H5N1 tem sido a responsável pelos casos de infecção em humanos. Apesar dos casos serem esporádicos, requer atenção, já que uma mutação genética do virus poderia levar à transmissão entre os humanos.

A gripe aviária tem chamado a atenção da comunidade internacional ao longo dos anos, pelos repetidos surtos em vários países, sempre com consequências devastadoras para a indústria aviária, a subsistência dos criadores, a saúde animal e o comércio internacional. Nos locais onde os surtos ocorrem costuma-se abater as aves doentes e as saudáveis, para evitar a propagação da doença, o que implica em grandes perdas econômicas imediatas e impactos em prazos mais longos em toda a cadeia produtiva. O acompanhamento dos surtos da gripe aviária no mundo é feito pela Organização Mundial para a Saúde Animal (WOAH – antiga OIE), por meio das notificações ao Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS) da OMC. A WOAH reporta que depois de ocorrerem surtos em aves domésticas e selvagens da África, Ásia, Europa e América do Norte, a doença foi detectada nas Américas Central e do Sul. Nos últimos 4 meses, a gripe aviária foi notificada pela primeira vez na Bolívia, Colômbia, Costa Rica, Equador, Honduras, Panamá, Peru e Venezuela e, mais recentemente na Argentina e Uruguai. Parece inevitável que a doença chegue ao Brasil.

Dado que o Brasil é o maior exportador de carnes de aves do mundo, a ocorrência da doença em criação comercial, teria como efeito imediato, o embargo às importações por vários países. Dadas as dimensões continentais do país e em antecipação ao problema, uma regionalização da produção deveria estar registrada junto à WOAH e OMC, possibilitando a continuidade das exportações de algumas regiões, para alguns países. Nas regiões afetadas, as medidas sanitárias mais rígidas elevariam os custos de produção, enquanto os preços da carne seriam reduzidos pelo declínio do consumo externo e interno. O preço dos ovos aumentaria pela redução da oferta.

Para evitar ou postergar a ocorrência da gripe aviária no país, protocolos rigorosos de segurança estão sendo implantados nas granjas e abatedouros. O MAPA tem planos de vigilância passiva (sob notificação) e ativa de gripe aviária em estabelecimentos avícolas, abatedouros e para casos de mortalidade de aves silvestres, além da vigilância de criações de subsistência em áreas de risco. Está em vigor um rigoroso controle no trânsito de aves, ovos e material genético interno e nas fronteiras.

* Professor colaborador/voluntário da UFV. Mestrado em 1979 pela UFV e Doutorado em 1990 pela North Carolina State University. Atua em barreiras não alfandegárias e comércio internacional, demanda e interdependência de mercados, métodos quantitativos em economia e comércio internacional de commodities agrícolas.